Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA): Princípios, Projetos e Aplicações Práticas

SPDA: o que é e quais são os principais tipos de acordo com a NBR5419 ?

Sumário

O que é um SPDA ?

O (SPDA) Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas ou Para Raio como é mais conhecido, é um conjunto de componentes instalados em uma edificação ou estrutura, destinado a interceptar, conduzir e dissipar de forma segura a corrente elétrica de uma descarga atmosférica para o solo. O SPDA tem como principais funções:

  • Proteção Estrutural: Evitar danos físicos à edificação, como rupturas, incêndios ou danos aos materiais de construção.
  • Proteção de Pessoas e Equipamentos: Prevenir riscos de choque elétrico e proteger equipamentos elétricos e eletrônicos contra sobretensões.
  • Equalização de Potencial: Minimizar diferenças de potencial elétrico na estrutura, evitando arcos elétricos perigosos.

Tipos de SPDA

Os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas podem ser classificados de acordo com a metodologia e os componentes utilizados para captar e conduzir as descargas. Conforme a ABNT NBR 5419:2015, os tipos de SPDA aceitos e reconhecidos são:

1. Para Raios Franklin

Descrição:

  • Para Raio Franklin é um tipo de SPDA montado em hastes metálicas pontiagudas, chamadas de captores ou pára-raios, instaladas nos pontos mais altos da edificação.
  • As hastes são conectadas a um sistema de descida e aterramento que conduz a corrente do raio até o solo.

Funcionamento:

  • O captor Franklin cria um caminho preferencial para a descarga atmosférica, interceptando o raio antes que este atinja diretamente a estrutura.
  • Baseia-se no princípio de que pontos agudos intensificam o campo elétrico, atraindo a descarga.

Aplicações:

  • Utilizado em edificações altas, torres de telecomunicação, chaminés e outras estruturas elevadas.
  • Adequado quando é possível determinar pontos específicos de captação.

2. Para Raio Gaiola de Faraday

Descrição:

  • Os Para Raios Gaiola de Faraday são montados a partir de uma rede de condutores metálicos dispostos ao redor e/ou sobre a edificação, formando uma espécie de gaiola.
  • Os condutores horizontais e verticais são interligados, criando uma malha que cobre toda a estrutura.

Funcionamento:

  • A gaiola de Faraday distribui a corrente elétrica da descarga ao longo dos condutores, reduzindo o impacto em qualquer ponto específico.
  • O campo elétrico interno à gaiola é anulado, protegendo o interior da edificação.

Aplicações:

  • Adequado para edificações com grandes áreas de cobertura, como indústrias, depósitos e edifícios comerciais.
  • Recomendado quando se deseja uma proteção abrangente e uniforme.

3. Sistema de Condutores Horizontais (Método das Malhas)

Descrição:

  • Similar ao Para Raios gaiola de Faraday, mas focado na instalação de condutores horizontais no topo da estrutura.
  • Forma-se uma malha com dimensões específicas, conforme o nível de proteção requerido.

Funcionamento:

  • Os condutores horizontais interceptam as descargas atmosféricas, distribuindo a corrente pelos condutores de descida e sistema de aterramento.

Aplicações:

  • Utilizado em telhados planos ou com pequenas inclinações.
  • Comum em edifícios residenciais e comerciais de médio porte.

4. Sistema de Cabos de Guarda (Catenária)

Descrição:

  • Consiste em cabos condutores instalados acima da estrutura a ser protegida, sustentados por mastros ou torres.
  • Forma uma zona de proteção abaixo dos cabos.

Funcionamento:

  • Os cabos de guarda interceptam as descargas atmosféricas que ocorreriam sobre a área protegida.
  • A corrente é conduzida através dos mastros para o sistema de aterramento.

Aplicações:

  • Comum em linhas de transmissão de energia elétrica.
  • Pode ser aplicado para proteger áreas abertas, como pátios de armazenamento.

Comparação entre os Tipos de SPDA

CritérioPonta FranklinGaiola de FaradayMétodo das MalhasCabos de Guarda
Complexidade de InstalaçãoBaixaAltaMédiaAlta
CustoBaixoAltoMédioAlto
Eficiência em Grandes ÁreasLimitadaAltaMédiaAlta
EstéticaImpacto VisualDiscretoDiscretoImpacto Visual
AplicabilidadeEstruturas AltasGrandes EdificaçõesTelhados PlanosÁreas Abertas

Subsistemas do SPDA (Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas)

O Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) é composto por subsistemas que trabalham de forma integrada para proteger uma edificação contra os efeitos das descargas atmosféricas. Conforme a ABNT NBR 5419:2015, o SPDA é dividido nos seguintes subsistemas principais:

1.Sistema de Captação

O sistema de captação é responsável por interceptar as descargas atmosféricas diretas, evitando que atinjam a estrutura da edificação. Ele é instalado na parte superior da edificação e é composto por:

  • Captores Franklin (Pontos Captadores): Hastes metálicas pontiagudas instaladas nos pontos mais altos.
  • Gaiolas de Faraday: Rede de condutores que envolvem a edificação.
  • Condutores Horizontais: Malhas ou cabos dispostos no topo da estrutura.
Função
  • Intercepção das Descargas Atmosféricas: Proporciona um caminho preferencial para a corrente do raio, evitando danos diretos à estrutura.
Projetos e Métodos de Dimensionamento
  • Método da Esfera Rolante
Fonte: NBR 5419
Proteção de Estruturas Contra Descargas Atmosféricas
  • Método do Ângulo de Proteção
Diagrama ilustrando a zona de proteção do modelo franklin.
Fonte – NBR 5419
Proteção de Estruturas Contra Descargas Atmosféricas
  • Método das Malhas
A imagem mostra um diagrama do Sistema de Proteção Tipo Gaiola de Faraday em um edifício. O diagrama ilustra seis componentes numerados que fazem parte do sistema de proteção: 1. Captor tipo terminal aéreo no topo do edifício, 2. Cabo de cobre nu conectado ao captor, 3. Suporte isoladores para o cabo de cobre nu, 4. Tubo de proteção para o cabo de cobre nu, 5. Malha de aterramento no solo conectada ao cabo de cobre nu através do tubo de proteção, e 6. Conector de medição conectado à malha de aterramento. Este diagrama serve para explicar como o Sistema de Proteção Tipo Gaiola de Faraday funciona em um edifício.

2.Sistema de Descidas

O sistema de descidas é composto por condutores que conectam o sistema de captação ao sistema de aterramento. As descidas podem ser:

  • Externas: Instaladas na parte externa da edificação.
  • Internas: Integradas à estrutura, como armaduras metálicas em concreto armado.
Função

Condução Segura da Corrente: Transporta a corrente elétrica da descarga atmosférica do ponto de captação até o sistema de aterramento, minimizando riscos de centelhamento e incêndio.

Fotos de dois edifícios com um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) instalado, destacando os condutores de descida que são cabos metálicos instalados verticalmente ao longo da parede do edifício para conduzir a descarga elétrica de forma segura até o solo.
SPDA – descidas

3.Sistema de Aterramento

O sistema de aterramento é a parte do SPDA que dissipa a corrente elétrica da descarga atmosférica para o solo de forma segura. É composto por:

  • Eletrodos de Aterramento: Barras ou placas metálicas enterradas no solo.
  • Condutores de Aterramento: Conectam as descidas aos eletrodos.
Função
  • Dissipação da Corrente Elétrica: Garante que a energia do raio seja dispersada no solo sem causar danos à estrutura ou riscos às pessoas.
Dois exemplos de malhas de aterramento, componentes essenciais de um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA).
SPDA – Malha de aterramento

Documentação e questões legais do SPDA

Documentação Exigida para SPDA:

Projeto de SPDA: Deve ser elaborado por um profissional habilitado (Engenheiro eletricista) com registro no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e deve seguir as normas técnicas estabelecidas pela ABNT, principalmente a NBR 5419 (Proteção contra Descargas Atmosféricas), que é a norma técnica principal que rege a instalação de SPDA.

ART (Anotação de Responsabilidade Técnica): É obrigatória a emissão da ART pelo Engenheiro responsável pelo projeto, execução ou manutenção do SPDA, que formaliza a responsabilidade técnica da instalação.

Laudo de Inspeção e Manutenção: Após a instalação, um laudo técnico deve ser emitido por um profissional habilitado atestando que o sistema foi instalado conforme o projeto e está funcionando adequadamente. Manutenções periódicas também devem ser documentadas.

Relatório de Medições: Relatórios que documentem as medições de resistência de aterramento e a integridade do SPDA. Estas medições devem ser realizadas conforme as recomendações da NBR 5419.

Manual de Operação e Manutenção: Deve ser elaborado para orientar sobre os procedimentos de manutenção periódica e preventiva do sistema.

Órgãos Responsáveis pela Fiscalização:

CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia): O CREA fiscaliza o exercício profissional, garantindo que os projetos e execuções de SPDA sejam realizados por profissionais habilitados. Também verifica a existência de ARTs devidamente registradas.

Corpo de Bombeiros: Em muitos estados, o Corpo de Bombeiros verifica a existência e a manutenção adequada dos SPDAs como parte das exigências para a liberação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O AVCB é um documento obrigatório para que edificações estejam em conformidade com as normas de segurança.

Prefeituras e Secretarias Municipais de Obras: Podem exigir o cumprimento das normas de SPDA como parte das condições para a concessão de alvarás de funcionamento ou de construção.

SPDA em conformidade

Qual é o documento que as empresas precisam apresentar em caso de fiscalização?

O documento que assegura que o SPDA de uma empresa está em condições perfeitas de atuação e que pode ser apresentado em caso de fiscalização é o Laudo de Inspeção e Manutenção do SPDA.

Laudo de Inspeção e Manutenção do SPDA:

O laudo de SPDA é um documento técnico que comprova que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) foi inspecionado, e está em conformidade com as normas vigentes (principalmente a NBR 5419) e em condições adequadas de funcionamento.

Validade do Laudo de SPDA de acordo com NBR 5419

A validade de um laudo de inspeção e manutenção de SPDA (Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas) depende da classe de risco da edificação e das condições ambientais conforme definido pela NBR 5419. A norma não estabelece um prazo fixo universal para todos os laudos, mas recomenda intervalos específicos de inspeção e manutenção com base nas características da edificação.

  1. Classe de Risco da Edificação:
    • A NBR 5419 classifica as edificações em quatro classes (I, II, III e IV), em que a Classe I é a de maior risco. A classe da edificação influencia diretamente na frequência das inspeções e, portanto, na validade do laudo.
  2. Recomendações de Frequência de Inspeções:
    • Classe I: Inspeção anual.
    • Classe II: Inspeção a cada 2 anos.
    • Classe III: Inspeção a cada 3 anos.
    • Classe IV: Inspeção a cada 5 anos.
  3. Condições Especiais:
    • Se houver alterações nas características da edificação, como reformas, mudanças nas áreas protegidas ou nos equipamentos do SPDA, uma nova inspeção deve ser realizada, independente do prazo anterior.
    • Ambientes agressivos (indústrias químicas, áreas costeiras, etc.) ou que apresentam degradação acelerada dos componentes do SPDA também podem exigir inspeções em intervalos mais curtos.

Profissional Habilitado para emitir o Laudo de SPDA

O profissional habilitado para emitir o Laudo de Inspeção e Manutenção do SPDA é o Engenheiro eletricista devidamente registrado no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Este profissional possui a formação e as qualificações técnicas necessárias para projetar, instalar, inspecionar e manter sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, garantindo a conformidade com as normas técnicas vigentes, especialmente a NBR 5419.

Técnico, Tecnologo ou eletricista podem emitir o laudo ?

Apenas o Engenheiro eletricista registrado no CREA é habilitado para assinar o Laudo de Inspeção e Manutenção do SPDA. Nem técnicos em eletrotécnica nem eletricistas, mesmo que altamente qualificados, possuem a atribuição legal para emitir e assinar esse tipo de laudo técnico.

Razões pelas quais apenas o Engenheiro Eletricista pode assinar o Laudo:

Atribuições Profissionais Regulamentadas pelo CREA:

  • O CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) regulamenta as atribuições profissionais dos Engenheiros, tecnólogos, técnicos e outros profissionais da área de Engenharia. Somente o Engenheiro eletricista, por sua formação e registro no CREA, tem a competência legal para projetar, instalar, inspecionar e emitir laudos sobre sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA).

Nível de Responsabilidade Técnica:

  • O laudo de SPDA envolve uma análise complexa que vai além das competências atribuídas a técnicos ou eletricistas. Ele requer uma compreensão profunda das normas técnicas, como a NBR 5419, além de conhecimentos específicos sobre o comportamento de descargas atmosféricas, aterramentos e a correta avaliação dos sistemas de proteção.

Exigência de ART (Anotação de Responsabilidade Técnica):

  • A emissão de uma ART é obrigatória para a validação legal do laudo, e apenas engenheiros registrados no CREA podem emitir ARTs. A ART é um documento que formaliza a responsabilidade técnica do Engenheiro sobre o serviço executado, e sua ausência ou a assinatura por um profissional não habilitado pode invalidar o laudo, além de acarretar sanções legais.

Implicações Legais e de Conformidade:

  • Em caso de inspeções, auditorias ou incidentes, o laudo deve ser capaz de comprovar que o SPDA foi avaliado por um profissional com a competência exigida pela legislação. Apenas o engenheiro eletricista tem a responsabilidade legal e o respaldo técnico para responder por qualquer irregularidade ou falha no sistema.

Portanto, para garantir a conformidade com as normas e as exigências legais, o laudo de SPDA deve ser sempre assinado por um Engenheiro eletricista. Técnicos em eletrotécnica e eletricistas podem auxiliar na execução das inspeções e medições, mas a responsabilidade final e a assinatura do laudo pertencem exclusivamente ao Engenheiro.

Considerações Finais sobre SPDA

Instalar e manter um SPDA em conformidade com a NBR 5419 não é apenas uma responsabilidade técnica, mas uma obrigação legal fiscalizada pelo Crea e Corpo de Bombeiros que deve ser levada a sério por todas as empresas e proprietários de edificações. A contratação de uma empresa de Engenharia especializada que possua no seu quadro de colaboradores Engenheiros eletricistas habilitados, que possam emitir laudos técnicos e garantir a eficiência do sistema, é fundamental para assegurar que o SPDA esteja sempre em condições perfeitas de atuação.

A manutenção regular e a inspeção periódica são passos essenciais para manter o SPDA eficiente e apto a cumprir sua função de proteção. A documentação técnica, como laudos de inspeção e ARTs, deve estar sempre atualizada e disponível, especialmente em caso de fiscalizações ou auditorias.

Agradecimentos

Agradecemos por dedicar seu tempo à leitura deste artigo sobre Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA).

Esperamos que as informações apresentadas tenham sido úteis e esclarecedoras, ajudando a compreender a importância da instalação e manutenção adequada do SPDA para a segurança de edificações e pessoas.

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Sobre o Autor

Engenheiro Eletricista PMP, MBA, Especialista em Projetos de SPDA e Compatibilidade Eletromagnética (EMC).

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