A infraestrutura seca de um sistema de cabeamento estruturado é um elemento fundamental para garantir a eficiência, segurança e proteção física e mecânica dos cabos e por consequência dos sistemas de comunicação em edificações corporativas, comerciais e industriais.
Neste artigo, vamos abordar os princípios normativos, requisitos, recomendações e boas práticas para o planejamento, dimensionamento e implantação de caminhos e espaços para o cabeamento estruturado, com enfoque em ambientes internos, externos, subterrâneos e compartilhados, utilizando como referência principal os critérios estabelecidos pela NBR 16415.
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Conceitos Fundamentais sobre Caminhos e Espaços de Cabeamento Estruturado
O conceito de caminhos e espaços está associado à infraestrutura física dedicada à distribuição de cabos de telecomunicações, compreendendo dutos, eletrocalhas, shafts, caixas de passagem, poços de visita e demais compartimentos construtivos destinados a esse fim.
Estes elementos asseguram, além da organização lógica do cabeamento, sua proteção contra interferências, esforços mecânicos e agentes ambientais.
- Caminhos: Referem-se a rotas físicas (internas ou externas) pelas quais são instalados os cabos de dados e voz.
- Espaços: São compartimentos específicos, como salas de telecomunicações, racks, shafts verticais e áreas técnicas, nos quais a infraestrutura de cabeamento é acomodada, com acesso restrito e gerenciamento controlado de segurança.
Os caminhos podem ser internos aos edifícios, atendendo ao cabeamento horizontal e backbone de edifício, ou externos, realizando interligações entre edificações por estruturas subterrâneas ou aéreas (backbone de campus).
Espaços para Cabeamento Estruturado
A NBR 16415 define claramente os espaços essenciais que compõem a infraestrutura do cabeamento estruturado em edificações comerciais e corporativas.
Estes ambientes são projetados para garantir a organização, proteção e flexibilidade dos componentes de telecomunicações, assegurando a integridade e a eficiência do sistema.
Os principais espaços estabelecidos pela norma são:
- Ponto de Entrada / Entrada de Telecomunicações (Entrance Facility);
- Sala de Equipamentos / Centro de Processamento de Dados (Equipment Room / Data Center)
- Sala de Telecomunicações / Armário de Telecomunicações (Telecommunications Room / Telecommunications Closet)
- Área de Trabalho (Work Área)
Ponto de Entrada (Entrance Facility)
O ponto de entrada é o espaço físico destinado à chegada e conexão dos serviços externos de telecomunicações ao prédio.
Neste local realizam-se as terminações de cabos provenientes das redes externas (provedores de telefonia, internet e outros serviços).
O projeto deve garantir o encaminhamento adequado destes cabos até os demais ambientes internos, respeitando os requisitos de proteção física, aterramento e controle de acesso, de modo a evitar riscos associados tanto a falhas quanto a interferências externas.
Sala de Equipamentos (Equipment Room)
A sala de equipamentos é responsável por abrigar os principais equipamentos eletrônicos da infraestrutura de telecomunicações, incluindo ativos de rede, servidores, controladores e dispositivos de centralização.
Conforme estabelece a NBR 16415, essa sala deve atender a critérios rigorosos quanto à segurança física, climatização compatível com a área de trabalho, disponibilidade elétrica e acesso restrito.
O backbone do cabeamento é normalmente terminado nesta sala, facilitando a interligação entre diferentes pavimentos ou setores da edificação.
Sala de Telecomunicações (Telecommunications Room)
A sala de telecomunicações, também chamada de closet de telecomunicações, é destinada à terminação e distribuição dos cabos horizontais que atendem às áreas de trabalho no pavimento correspondente.
De acordo com a NBR 16415, cada andar deve possuir pelo menos uma sala de telecomunicações, estrategicamente posicionada para proporcionar caminhos curtos, acessibilidade para manutenção e para acomodação de painéis de conexão (patch panels), cross-connects e switches de acesso.
O ambiente deve satisfazer exigências de infraestrutura, incluindo disponibilidade de tomadas elétricas, acesso ao sistema de aterramento e condições ambientais equivalentes às áreas vizinhas, além de proteção sísmica e física.
Área de Trabalho (Work Area)
A área de trabalho é o local onde os usuários finais interagem com o sistema de cabeamento estruturado através dos pontos de telecomunicação (tomadas de dados, voz e outros serviços).
A distribuição do cabeamento horizontal atinge este espaço, proporcionando flexibilidade e facilidade de modificações, expansões ou reconfigurações.
A norma recomenda que o cabeamento e seus dispositivos na área de trabalho permitam facilidade de movimentação, adição ou remoção de equipamentos por parte dos usuários, mantendo a organização e o desempenho do sistema de telecomunicações.
Tipos de Caminhos para Cabeamento Estruturado
Os caminhos para cabeamento estruturado é composta por diversos elementos projetados para conduzir, proteger e organizar cabos de telecomunicações, conforme especificações da NBR 16415 e diretrizes estabelecidas nos guias internacionais de cabeamento estruturado. A seguir, detalham-se os principais tipos de caminhos utilizados:
Eletrodutos
Os eletrodutos constituem tubos de material metálico ou termoplástico, rígidos ou flexíveis, destinados à condução e proteção mecânica de cabos utilizados em sistemas de cabeamento estruturado. Podem ser instalados embutidos nas paredes, lajes ou aparentes. Os eletrodutos possibilitam a segregação das redes de telecomunicações das instalações elétricas e asseguram a integridade física dos condutores, minimizando riscos de interferências e danos mecânicos.
Eletrocalhas
As eletrocalhas são condutos abertos, geralmente fabricados em aço galvanizado ou alumínio, utilizados para acomodar grande quantidade de cabos, principalmente em percursos horizontais. Possuem formato em “U” ou “bandeja” e permitem inspeção visual, ventilação e fácil acesso para futuras manutenções, ampliações ou reconfigurações do sistema de cabeamento.
Leitos de Cabos
Leitos de cabos são estruturas metálicas, geralmente em forma de escada, indicadas para acomodação de grandes volumes de cabos em instalações horizontais ou verticais. Oferecem suporte mecânico contínuo e favorecem o gerenciamento e a dissipação de calor em instalações com elevado volume de cabos.
Perfilados
O perfilado é um tipo de caminho metálico perfurado para passagem de cabos, amplamente empregado em instalações de cabeamento estruturado para suportação e organização de condutores, especialmente em percursos horizontais.
Canaletas
Canaletas são perfis fechados ou parcialmente fechados, fabricados em PVC ou metálicos, instalados superficialmente em paredes, rodapés ou mobiliário.
Destinam-se à condução de cabos em áreas onde intervenções civis não são viáveis.
Este caminho destaca-se pela facilidade de instalação, flexibilidade e acessibilidade para alterações e expansões do cabeamento.
Shafts
Os shafts são compartimentos verticais ou dutos de passagem que atravessam múltiplos pavimentos das edificações, destinados à transposição segura de cabos entre diferentes andares. Esses espaços permitem a centralização, proteção e organização dos cabos backbone e horizontais provenientes de diferentes ambientes e racks.
Piso Elevado
O piso elevado consiste em um sistema modular composto por placas removíveis sustentadas por pedestais reguláveis, formando um espaço técnico entre o contrapiso e o piso acabado. Esse espaço é amplamente utilizado para acomodação e distribuição de cabos de dados, voz e energia, especialmente em ambientes corporativos e salas técnicas.
Critérios Técnicos para o Projeto de Caminhos Internos
O projeto dos caminhos de cabos no interior das edificações deve considerar múltiplos aspectos normativos e técnicos, incluindo:
- Dimensionamento: Devem ser previstos largura, altura e quantidade de dutos ou eletrocalhas em função do volume de cabos atual e de futuras expansões.
- Raios mínimos de curvatura: Fundamental para evitar danos físicos e manter as características de transmissão dos cabos, principalmente fibras ópticas.
- Proteção mecânica: Instalação em locais secos, não sujeitos à inundação, evitando uso de poços de elevador e caixas de escada. Compartimentos (eletrodutos, eletrocalhas) devem ser exclusivamente dedicados ao cabeamento estruturado, não podendo ser compartilhados com distribuições elétricas.
- Atendimento à segregação: Caso haja compartilhamnto vertical (shafts), todos os requisitos das normas IEC 60364-4-41, IEC 60364-4-44 e IEC 60364-5-52 devem ser rigorosamente atendidos.
- Interferência eletromagnética: Recomenda-se máxima separação entre cabos de energia e telecomunicações, uso de barreiras metálicas e caminhos distintos, para mitigação de EMI (Interferência Eletromagnética).
- Aterramento: Em materiais metálicos, todos os caminhos devem garantir aterramento seguro e conformidade com a ABNT NBR 5410.
Estruturas e Espaços para Cabeamento Externo: Aéreos e Subterrâneos
Para interligações entre edifícios, o cabeamento estruturado pode utilizar caminhos subterrâneos ou aéreos, cada um com exigências técnicas específicas:
Caminhos Subterrâneos
- Incluem eletrodutos enterrados, poços de visita, caixas de inspeção e dutos sob vias públicas ou privadas.
- Podem ser dedicados exclusivamente ao cabeamento estruturado (cabo diretamente enterrado ou em eletrodutos), ou compartilhados (ex.: túneis técnicos).
- É imprescindível que todo acesso mantenha as características ambientais do espaço (estanqueidade, vedação etc.).
Caminhos Aéreos
- Utilizam postes, elementos de tração, cabos autossuportados (“espinados”) e estruturas de ancoragem.
- Toda estrutura aérea deve garantir segurança mecânica, alívio de tensão na entrada dos edifícios e proteção contra esforços acidentais.
As caixas de passagem e de emendas devem ser localizadas preferencialmente em trechos retos, nunca constituindo curvas dos caminhos. Emendas de cabos não podem ser realizadas dentro de caixas de passagem, sendo exigidas caixas específicas e acessíveis para esse fim.
Planejamento e Projeto dos Caminhos: Diretrizes e Considerações Essenciais
O planejamento das rotas e caminhos para o cabeamento estruturado deve debater um conjunto abrangente de fatores, que garantem viabilidade construtiva, segurança operacional e aderência normativa:
- Estruturas e edificações existentes: Analisar lay-out construtivo, limitações, interferências e pontos críticos.
- Previsão de crescimento: Dimensionamento dos caminhos considerando expansibilidade sem disrupção da infraestrutura.
- Localização geográfica e ambiental: Avaliar risco de exposição à água, calor, agentes químicos e danos físicos.
- Acessibilidade e manutenção: Garantir acesso facilitado aos pontos de inspeção e intervenção, sem expor os cabos a riscos de segurança.
- Compatibilização com demais instalações prediais: Sincronizar projetos elétrico, hidráulico, ar-condicionado e especialidades de segurança, minimizando cruzamento e interferências.
- Restrições de legislação local e normas técnicas: Respeitar todos os requisitos regulatórios e normativos aplicáveis ao tipo de infraestrutura e uso do edifício.
Segurança Física, Sinalização e Controle de Acesso em Espaços de Cabeamento
Os espaços destinados ao cabeamento estruturado devem apresentar níveis adequados de segurança física, incluindo:
- Acesso restrito: Implementação de controles físicos às áreas técnicas, mediante dispositivos eletrônicos, credenciamento e limitações de circulação.
- Sinalização: Toda área técnica, racks, dutos e compartimentos devem possuir sinalização conforme a política de segurança da organização.
- Ambientes compartilhados: Cabos que sirvam múltiplas edificações ou ocupantes devem obrigatoriamente estar em áreas com acesso restrito e controlado, conforme diretrizes suplementares do projeto.
Nenhuma abertura em espaços ou infraestruturas pode comprometer as características ambientais do local. Os pontos de entrada dos cabos devem prover alívio de tensão adequado e limitar raios de curvatura, protegendo a integridade das terminações e blindagens.
Exigências de Compartimentação, Expansibilidade e Confiabilidade
A compatibilização do cabeamento em relação a outras instalações é aspecto crítico, abordado por meio dos seguintes requisitos técnicos:
- Compartimentação: É vedada a utilização de compartimentos elétricos para cabeamento estruturado, sendo exigidos caminhos, dutos ou eletrocalhas exclusivas.
- Expansibilidade: Todo caminho deve prever reserva para futuros lançamentos de cabos, sem necessidade de reforma estruturante, minimizando o risco operacional.
- Confiabilidade: Redundâncias, rotas alternativas e diagramas de contingência devem ser considerados nos projetos de alta disponibilidade, especialmente em datacenters e edifícios críticos.
Implantação Prática e Recomendações para Execução de Obras
A implantação dos caminhos e espaços demanda observância rigorosa das normas técnicas e detalhamento executivo:
- Materiais: Seleção conforme finalidade, carga e ambiente (ex.: eletrocalhas metálicas para áreas industriais, eletrodutos antichama para áreas de acesso público, dutos de PVC para ambientes secos).
- Montagem: Respeitar distanciamento mínimo entre caminhos de energia e dados, limitar uso de curvas acentuadas, evitar cruzamentos não planejados e assegurar pontos de fixação robustos.
- Inspeção e testes: Realizar fiscalização detalhada de toda a infraestrutura instalada antes do lançamento dos cabos, com documentação fotográfica, diagramas as built e laudos de conformidade.
- Comissionamento: Testes finais de conectividade, continuidade, proteção mecânica, aterramento e identificação física dos caminhos para aceitação da obra.
Considerações Específicas para Espaços Alternativos e Infraestruturas Compartilhadas
Em situações onde não for viável a segregação total dos caminhos do cabeamento estruturado, aplicam-se requisitos adicionais:
- Barreiras metálicas contínuas: Devem ser empregadas sempre que coexistirem cabos de diferentes sistemas no mesmo shaft, minimizando o acoplamento de ruído e garantindo níveis adequados de segurança e funcionamento dos sistemas.
- Espaços compartilhados: Nos túneis de serviços, assegurar sinalização específica, rotulagem, zonas de manutenção e documentação precisa da ocupação de dutos/canais por cada sistema.
Aspectos Ambientais, Resiliência e Durabilidade dos Caminhos e Espaços
Em ambientes sujeitos a agressões ambientais (umidade, calor excessivo, agentes corrosivos), a concepção dos caminhos deve adotar soluções de alta durabilidade:
- Materiais resistentes: Emprego de metais tratados, revestimentos anticorrosivos e plásticos técnicos.
- Vedações: Caixas, dutos e entradas de edifícios devem ser estanques, com sistemas de vedação especificados contra entrada de água, poeira e insetos.
- Monitoramento ambiental: Aplicação de sensores, sistemas de alarme e manutenção preditiva para antecipação de falhas devido a agentes externos.
A infraestrutura deve prever manutenção facilitada, inspeção periódica e rápida capacidade de resposta a incidentes ou evoluções tecnológicas.
Conclusão
A definição, dimensionamento e implantação criteriosa dos caminhos e espaços destinados ao cabeamento estruturado são etapas basilares para garantir o desempenho, segurança e longevidade das redes de comunicação modernas. A observância das premissas normativas, como as estabelecidas pela NBR 16415, bem como a integração com demais regulamentos nacionais (ABNT NBR 5410, ABNT NBR 14565, ABNT NBR 16264, IEC 60364), preserva a integridade funcional da infraestrutura e reduz significativamente riscos de falha, paralisação ou não conformidade legal.
É recomendável o investimento em soluções técnicas robustas, previsão de escalabilidade e aplicação rotineira de inspeções e controles de acesso, assegurando que a infraestrutura de TI e telecomunicações esteja apta a suportar a evolução constante das demandas empresariais e tecnológicas. A tomada de decisão em engenharia deve sempre priorizar confiabilidade, segurança e aderência estrita aos requisitos técnicos, construindo bases sólidas para operações críticas e futuras ampliações.
Links Relevantes (Materiais Técnicos complementares)
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